HISTÓRIA DA IGREJA 1
DEUSIMAR BARBOSA
1 INTRODUÇÃO
A História da Igreja 1 vai desde a ascensão de Cristo, 30 d.C. até a queda de Constantinopla em 1453 d.C. Partiremos o presente estudo voltado para os quatorze séculos da história da igreja de Cristo, passo a passo que teremos de percorrer fazendo um exame seguro desses primeiros períodos da História da Igreja 1.
O topo culminante que assinala o ponto de partida da igreja de Cristo é o Monte das Oliveiras, não muito distante do muro oriental de Jerusalém. Ali, cerca do ano 30 a.D. Jesus Cristo, que havia ressurgido dentre os mortos, ministrou seus últimos ensinamentos aos discípulos e logo depois ascendeu ao céu, ao trono celestial.
Um pequeno grupo de judeus crentes no seu Senhor, elevado como Messias-Rei de Israel, esperou algum tempo em Jerusalém, sem considerar, inicialmente, a existência de uma igreja fora dos limites do judaísmo. Contudo, alargaram gradualmente seus conceitos e ministério, até que sua visão alcançou o mundo inteiro, para ser levado aos pés de Cristo. Sob a direção de Pedro, Paulo e seus sucessores imediatos, a igreja foi estabelecida no espaço de tempo de duas gerações, em quase todos os países, desde o Eufrates até ao Tibre, desde o Mar Negro até ao Nilo. O primeiro período terminou com a morte de João, o último dos doze apóstolos, que ocorreu, conforme se crê, cerca do ano 100 a.D. Consideremos, pois, essa época – “O Período da Era Apostólica”.
Durante o período que se seguiu à Era Apostólica, e que durou mais de duzentos anos, a igreja esteve sob a espada da perseguição. Portanto, durante todo o segundo século, todo o terceiro e parte do quarto, o império mais poderoso da terra exerceu todo o seu poder e influência para destruir aquilo a que chamavam “superstição cristã”. Durante sete gerações, um nobre exército de centenas de milhares de mártires conquistou a coroa sob os rigores da espada, das feras na arena e nas ardentes fogueiras. Contudo, em meio à incessante perseguição, os seguidores de Cristo aumentaram em número, até alcançar quase metade do Império Romano. Finalmente, um imperador cristão subiu ao trono e por meio de um decreto conteve a onda de mortes.
Evidentemente, os cristãos que durante tanto tempo estiveram oprimidos, de forma rápida e inesperada, por assim dizer, passaram da prisão para o trono. A igreja perseguida passou a ser a igreja imperial. A Cruz tomou o lugar da águia como símbolo da bandeira da nação e o Cristianismo converteu-se em religião do Império Romano. Uma capital cristã, Constantinopla, ergueu-se e ocupou o lugar de Roma. Contudo, Roma, ao aceitar o Cristianismo, começou a ganhar prestígio como capital da igreja. O Império Romano Ocidental foi derrotado pelas hordas de bárbaros, porém estes foram conquistados pela igreja, e fundaram na Europa nações cristãs, em lugar de nações pagãs.
Com a queda do Império Romano Ocidental iniciou-se o período de mil anos, conhecido como Idade Média. No início, a Europa era um caos, um continente de tribos sem governo e sem leis de nenhum poder central. Mas, gradativamente, foram-se organizando em reinos. Naquela época, o bispo de Roma esforçava-se não só para dominar a igreja, mas também para dominar o mundo. A religião e o império de Maomé conquistaram
Todos os países do Cristianismo primitivo. Encontramos, então, o Sacro Império Romano e seus inimigos. Observamos, também, o movimento romântico das Cruzadas no vão esforço para conquistar a Terra Santa que estava em poder dos muçulmanos. A Europa despertava com a promessa de uma próxima reforma, na nova era. Assim como a História Antiga termina com a queda de Roma, a História Medieval termina com a queda de Constantinopla.
2 A IGREJA PRIMITIVA (30-100 a.D.)
A pessoa de Jesus Cristo, o Nazareno, tornou-se inicialmente conhecida na Judéia, um território sob o domínio do Império Romano.
O que no início era um fato apenas local, mais tarde tornou-se mundial. Isto porque, como no dizer do apóstolo Paulo, “vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher” (Gl 4.4). Entendendo a “plenitude dos tempos” como no momento mais apropriado para a primeira vinda de Cristo.
A língua grega havia se tornado o idioma da cultura e do comércio, devido às conquistas dos gregos cerca de três séculos antes de Cristo. Quando Cristo veio, os povos eram bilíngües, falavam sua própria língua e o grego. Isso ajudou a espalhar o evangelho.
2.1 Cristo marcou a história
Os Evangelhos mostram a vida e o ministério de Jesus, durante o qual o Senhor preparou seus discípulos para anunciarem as boas novas da salvação. Segundo Damião (2003, p. 377): Os Evangelhos, que são a principal fonte de dados sobre a vida de Jesus, não podem ser entendidos como uma biografia no sentido comum do termo, pois cada um dos quatro evangelistas evidenciou propósitos específicos com seus livros, procurando proclamar através deles o Cristo como Senhor e Salvador, o perfeito unigênito Filho de Deus. Jesus instruiu os doze apóstolos e os demais discípulos sobre como deveriam viver. Eles deveriam dedicar-se a Deus e compartilhar as bênçãos divinas com outras pessoas em todos os lugares (At 1.8).
Após a ressurreição, Jesus foi visto “por mais de quinhentos irmãos de uma só vez” (1 Co 15.3-6). Quando subiu aos céus (ascensão), Jesus havia deixado um grupo organizado de crentes. Eles aguardavam seu regresso e, enquanto isso, teriam de pregar a fé em Cristo e o arrependimento dos pecados.
Os cristãos como viriam a ser conhecidos mais tarde, contariam com o poder dado por Cristo para fazerem milagres e curarem enfermos, entre outras bênçãos da fé (Mc 16.17,18).
Na primeira comemoração do Pentecostes, após a ascensão do Senhor, alguns discípulos estavam orando e o Espírito Santo se manifestou de forma maravilhosa (At 2.1-4). A partir desse momento, os discípulos sentiram-se mais capacitados a pregar o evangelho de Cristo. Estava formada a primeira igreja, em Jerusalém.
2.2 Como a primitiva igreja cristã cresceu
As primeiras conversões em Jerusalém foram em número impressionante (At 2.41; 5.14,16; 6.7). Durante alguns anos, os cristãos não saíram de Jerusalém para pregar. Após a perseguição que seguiu-se ao apedrejamento de Estêvão, os discípulos fugiram para o restante da Judéia, para Samaria e para a Fenícia (Líbano), Chipre (ilha do Mar Mediterrâneo) e Antioquia da Síria (At 8.1; 11.20).
Os discípulos que se dispersaram, por causa da perseguição, para Antioquia da Síria, deram origem a uma nova igreja. Os crentes, ensinados por Barnabé e por Paulo, começaram a obra missionária enviando esses dois pregadores a Chipre. Em Antioquia é que os discípulos de Jesus foram chamados, pela primeira vez, de cristãos (At 11.26).
Entre os anos 60 e 70 o imperador romano, Nero, iniciou uma perseguição aos cristãos de Roma. Outras perseguições em outras regiões aconteceram, ora contra os judeus, ora contra os cristãos, pois eram confundidos com os judeus ou como amigos deles.
Por volta do ano 100, o cristianismo crescia apesar das perseguições. Por outro lado, algumas idéias erradas tinham começado a ser comuns. As idéias mais perigosas para o cristianismo daquela época eram o ebionismo (queria conservar o cristianismo no judaísmo) e o gnosticismo (dizia que o conhecimento da salvação era para algumas pessoas especiais providas de sabedoria).
2.3 Contribuições importantes para a formação do cristianismo
a) Judeus (religião)– Apesar de falarem o aramaico, a língua dos judeus não era mais que um idioma falado na periferia. Mas eles contribuíram muitíssimo para o início do cristianismo, conforme Nichols (1954, p. 9):
Os judeus, como se tem dito com muito acerto, prepararam o ‘Berço do Cristianismo’, fizeram os preparativos para o seu nascimento e o alimentaram na sua primeira infância. Prepararam antecipadamente a vida religiosa em que foram instruídos o Senhor Jesus mesmo e todos os cristãos primitivos, inclusive os apóstolos e os primeiros missionários. Em parte alguma do mundo, ao surgir o Cristianismo, havia uma vida religiosa tão pura e tão forte como a existente entre os melhores representantes da religião judaica, cujos característicos essenciais eram dois: a mais alta concepção de Deus entre os homens, como resultado do ensino do V. Testamento; e o mais alto ideal de vida moral que se conhecia resultante dessa sublime concepção de Deus.
Os judeus criam na vinda do Messias (em grego, Cristo), prometido por Deus como guia e libertador de Israel. A ética judaica ensinava que o pecado era uma violação da vontade de Deus. Os judeus forneceram o cânon (coleção de livros sagrados) do Antigo Testamento (Rm 3.2). Isto ajudou a fundamentar a fé dos primeiros cristãos. Também criam os judeus que a história tem um significado e que, no fim, Deus irá triunfar sobre a falha da humanidade. Finalmente, outra importante contribuição histórica dos judeus foi a sinagoga. Durante o tempo em que o povo de Judá foi levado para a Babilônia como escravos (séculos VI a. C.), os judeus desenvolveram uma alternativa para conservar sua religião, língua e costumes. Essa alternativa era a sinagoga, isto é, uma congregação que substituía parte dos serviços religiosos do templo que ficara em Jerusalém. As sinagogas se tornaram muito importantes para a vida comunitária do povo judeu mesmo depois de voltarem à sua terra. Foi nelas, muitas vezes, que os cristãos pregaram o evangelho aos judeus e prosélitos (gente de outros povos convertida ao judaísmo). Leia Atos 13.14,15; 19.8.
b) Gregos (cultura) – Vimos que a língua grega foi muito útil na formação do cânon (conjunto de livros inspirados por Deus) do Novo Testamento. Os povos que viviam em torno do Mar Mediterrâneo (sul da Europa e Grécia, norte da África, a Palestina e a Ásia que hoje chamamos de Turquia) estavam familiarizados com o grego koinê, e que segundo Nichols (1954, p. 8,9):
Era esta a língua universal do mundo greco-romano, usada para todos os fins no intercâmbio popular. Quem quer que o falasse seria entendido em toda parte, especialmente nos grandes centros onde o Cristianismo foi primeiramente implantado. Os primeiros missionários, como por exemplo Paulo, fizeram quase todas as suas pregações nesta língua e nela foram escritos os livros que vieram a construir o nosso Novo Testamento. De modo que a religião universal encontrou para sua propaganda e conhecimento, entre todos os homens, uma língua universal; e esse auxílio inestimável foi, por Deus, providenciado por intermédio do povo grego.
Mas a cultura grega também influenciava o pensamento (filosofia) e as religiões daquele tempo.
c) Romanos (política) – Roma concretizou a unidade política com leis que deveriam ser obedecidas em todas as partes do império. Essa forma de ver o mundo ajudou os cristãos a entenderem a idéia de um reino celestial. As conquistas do exército romano ilustravam a conquista do mundo para Cristo. Diversos movimentos militares e comerciais desenvolveram cidades, as quais foram ligadas por estradas e por embarcações, deslocando cristãos em suas atividades profissionais ou missionárias como afirma Nichols (1954, p.6,7):
Com o seu império, os romanos se tornaram os mais úteis instrumentos de Deus no prepara do mundo para o advento do Cristianismo. Esse império, que incluía grande parte do gênero humano, foi uma lição objetiva que provava ser a humanidade uma só. Por muitas eras, governos separados formaram grupamentos humanos que se sentiam diferentes e isolados de todos os outros grupos; mas, com o Império Romano, os povos se unificaram, no sentido em que todos os governos tinham sido derrubados e um poder único dominava em toda a parte. O Cristianismo é uma religião de caráter universal, não conhecendo distinções de raça, apelando para os homens simplesmente como homens, tornando todos UM em Cristo. Para tal religião a preparação mais valiosa foi a unificação de todos os povos sob o poder político de Roma.
A administração romana, sábia, forte e vigilante, tornou fáceis e seguras as viagens e comunicações entre as diferentes partes do mundo. Os piratas, que estorvavam a navegação, foram varridos dos mares. Por terra, as esplêndidas estradas romanas davam acesso a todas as partes do império. Essas estradas notáveis realizaram naquela civilização o mesmo papel das nossas estradas de rodagem e estradas de assaltos. De modo que as viagens e o intercâmbio comercial tiveram extraordinário incremento. É provável que durante os primeiros tempos do Cristianismo o povo se locomovia de uma cidade para outra ou de um país para outro, muito mais do que em qualquer outra época, exceto depois da Idade Média. Os que sabem como as atuais facilidades de transporte têm auxiliado o trabalho missionário, podem compreender o que significava esse estado de coisas para a implantação do Cristianismo. Teria sido impossível ao apóstolo Paulo realizar sua carreira missionária sem essa liberdade e facilidade de trânsito possibilitadas pelo império romano. Contribuíram muitíssimo para o progresso do Cristianismo nos seus primeiros anos, as portas abertas que encontrou através de todo o mundo civilizado, as quais facilitaram o livre intercâmbio entre os países onde as novas idéias deveriam ser pregadas e encorajaram os movimentos dos primeiros missionários.
3 A IGREJA ANTIGA (100-476 a. D.)
3.1 O Cristianismo se expande
Enquanto o Evangelho era anunciado, crescia o número de cristãos. Houve crescimento numérico, mas o crescimento também foi espiritual. Porque as igrejas, ou parte delas, mantiveram a missão de anunciar o Evangelho e de cultivar as coisas espirituais legadas por Jesus. Assim asseverou Oliveira (1996, p. 23):
Entre o ano 100 d. C. e o reinado de Constantino, o Cristianismo alcançou considerável progresso. É certo que nem tudo nos tem sido dado conhecer a respeito do assunto, principalmente por ter sido esse período em que a Igreja sofreu grande perseguição. Além do mais, boa parte da expansão do Cristianismo durante esse período, teve lugar não só através da obra de missionários dedicados exclusivamente à tarefa da evangelização, como também através de testemunhos de comerciantes, soldados e escravos que por uma ou outra razão viajavam pelas mais diferentes regiões do Império.
O Cristianismo chegava a cada província de maneira humilde e obscura, mas logo crescia, tornava-se forte, e acabava por se impor como um organismo vivo em todos os seguimentos da vastidão do Império. Em 313 d. C., o Cristianismo já era religião dominante na Ásia, região muito importante do mundo de então, como também na Trácia e na longínqua Armenia. A Igreja se constituíra uma influência civilizadora muito poderosa em Antioquia da Síria, na costa da Grécia e Macedônia, nas ilhas gregas, no norte do Egito, na província da África, na Itália, no sul de Gália e na Espanha.
3.2 Crescimento espiritual
Na igreja primitiva (Séc. I), os domingos tinham dois cultos. Não tinham templos, pois reuniam-se em casas, em sinagogas em qualquer lugar público permitido. De manhã recebiam o ensino bíblico, cantavam hinos e prometiam viver corretamente. À noite celebravam a ceia do Senhor. Entre os dois cultos, realizavam o agape, ou festa do amor, com uma refeição comunitária. Assim disse Hurlbut (1993, p.42,43):
“A Ceia do Senhor era observada universalmente. A Ceia, no início, era celebrada no lar, assim como a páscoa, da qual se originou. Entretanto, nas igrejas gentílicas apareceu o costume de celebrar-se uma reunião da igreja como se fosse uma ceia qualquer, para a qual cada membro levava a própria provisão. O apóstolo Paulo repreendeu a igreja em Corinto pelo abuso que esse costume havia causado. No fim do século a Ceia do Senhor era celebrada onde os cristãos se reuniam, porém(talvez, por causa da perseguição), não em reuniões públicas. Somente os membros da igreja eram admitidos nas reuniões em que celebravam a Ceia, que era considerada como um ‘mistério’. O reconhecimento do domingo da ressurreição como aniversário da ressurreição de Cristo fora sancionado e aumentava dia a dia; contudo, nessa época ainda não era de guarda universal.”
Havia muita atenção para a ação social em benefício dos mais necessitados.No culto, lia-se uma passagem bíblica, o presidente aconselhava a congregação, havia orações e cânticos. A autoridade na igreja era encabeçada pelo bispo ou presbítero presidente. Ele cuidava principalmente do ensino e dos atos religiosos, ajudado pelos diáconos durante os cultos e na ação social.
A simplicidade dos primeiros crentes foi sendo modificado aos poucos. No segundo século, a ceia do Senhor já era feita pela manhã, a liturgia (ordem do culto) ficou mais formal e o agape não era mais realizado. Era comum chamar os bispos de “pai”. Na realização do culto, liam-se as “memórias dos apóstolos” ou “escritos dos profetas”, o presidente fazia uma pregação, a congregação orava em pé e fazia-se uma coleta para ajudar aos mais necessitados
Mesmo que as igrejas não tenham convivido com a prática da escravidão, sua atitude era de pregar a igualdade entre as pessoas. Nas atividades sociais e culturais, aconselhavam o não envolvimento com festas, jogos e espetáculo que não glorificassem a Deus. Especialmente, não toleravam que seus membros se misturassem aos cultos pagãos.
3.3 Crescimento da organização
Com a ameaça da perseguição e das doutrinas falsas, as igrejas começaram a achar que precisavam de bispos fortes. Surgiu aí a figura do bispo monárquico, que era considerado superior aos demais pastores (presbíteros). Em pouco tempo, a Igreja aceitou que os bispos das igrejas mais importantes que os outros bispos.
A partir daí, aceitaram-se as idéias de escritores cristãos, como Cipriano e Inácio, sobre a sucessão apostólica (quem podia ordenar alguém ao pastorado desde o tempo dos apóstolos) e sobre a totalidade dos cristãos formar uma só igreja universal, daí o título “católica”. Para serem práticos, as igrejas do século III reconheciam cinco bispos mais importantes (metropolitanos): das igrejas de Roma, Éfeso, Antioquia, Alexandria e Constantinopla. Como a situação política e econômica fez que algumas dessas cidades perdessem sua importância, apenas os bispos de Roma e Constantinopla continuaram no páreo pelo primeiro lugar da liderança.
A “politicagem” entre as igrejas começou na época em que as perseguições terminaram. Depois de ser ajudado pelos cristãos a tomar o poder de Roma, o imperador Constantino deu-lhes de presente o Edito de Milão (ano 313). Esse documento dizia que os cristãos tinham liberdade para praticarem a sua religião. Porém, Constantino tinha interesses políticos e, por isso, prestigiava os cristãos e envolvia os bispos em suas decisões, que segundo Knight e Anglin (1999, p. 54):
A administração do estado e dos negócios civis foi reunida com o governo da igreja e podia-se presenciar o espetáculo extraordinário de um imperador romano presidir os concílios da igreja e tomar parte nos debates.
Em geral os cristãos não se ressentiam desta intrusão, pelo contrário consideravam-na como um auspicioso e feliz presságio, e em lugar de censurar o imperador pelo seu intrometimento, receberam-no como bispo dos bispos. O povo de Deus aceitou a proteção de um estado semipagão, e o cristianismo sofreu a maior degradação possível com a proteção de um potentado do mundo.
O Cristianismo não precisava mais se esconder e, então, tinha até ajuda oficial para construir templos caros.
3.4 Os cristãos e os imperadores
A partir de 313, já estava nitidamente formada a idéia de uma só igreja, a católica romana. Constantino e Licínio governaram Roma com uma política de benefícios à Igreja Cristã, mas o paganismo (religiões de mistério) continuava. O imperador e seus descendentes mantiveram essa política, devolvendo propriedades da Igreja, dando-lhe ajudas materiais, enquanto o paganismo diminuía. Mas foi só em 380 que Teodósio I tornou o cristianismo a religião oficial de Roma. Após o curto governo de Juliano, que desejava retornar ao paganismo, os imperadores voltaram a favorecer a Igreja.
Essa atitude do estado fez com que a Igreja se tornasse sua aliada e os governantes sentiam-se à vontade para interferir nos assuntos espirituais. As autoridades da Igreja também ganharam, aos poucos, maior poder e influência na política.
Mas o Império Romano se dividiu e os diferentes imperadores tinham muitos conflitos de interesses. A cultura romana começou perder sua força porque não havia uma liderança eficiente e os valores que sustentava o império foram caindo aos poucos.
3.5 A Igreja e os bárbaros
O enorme território, com povos tão diferentes, e a perda da vontade de conquistar deixaram o Império Romano mais aberto às invasões dos bárbaros. Eram povos que se transferiram de regiões distantes na Ásia e atravessaram a Europa, apossando-se de terras do império. Os territórios romanos foram invadidos em 378 pelos godos. Daí até o século V, houve invasões de vários grupos. O chefe bárbaro Odroaco tomou o governo de Roma (476), enquanto Teodorico dominava a Itália.
A aproximação dos bárbaros com os cristãos permitiu a evangelização daqueles povos, que segundo Cairns (s/d, p. 103): “A grandeza da civilização que a Europa ocidental criou não foi tanto devida à invasão dos vigorosos bárbaros mas á bem-sucedida conversão destes bárbaros ao cristianismo por obra da Igreja.” Já que os bárbaros derrotaram os romanos, restava a liderança do “papa” (bispo de Roma). Com o papa se relacionando com os novos governantes, cresceu a confiança do povo romano no chefe religioso. Além de líder da Igreja, o papa ganhou também funções de líder político, competindo com os verdadeiros reis. Mais tarde, essas funções colocaram os papas contra os reis e imperadores.
3.6 A sobrevivência do cristianismo
Após a morte de João, o último apóstolo a falecer, e de terem eles terminado sua tarefa de liderar os cristãos e fixar as bases de seu crescimento (século I), as igrejas continuavam a crescer e a se multiplicar. Como vimos antes, o cristianismo crescia, mesmo enfrentando perseguições do estado e as heresias (desvio dos ensinamentos). Vamos ver então como respondia a esses desafios.
3.7 O desafio herético
Heresia significa “desviar-se de um caminho principal”. As heresias que começaram no primeiro século foram o ebionismo (heresia legalista) e o gnosticismo (heresia filosófica).
Lá vimos que o ebionismo era ensinado por judeus cristãos que desejavam que os cristãos cumprissem a lei de Moises – a antiga aliança – para garantir a salvação. Porém, eles deixaram de ser influentes a partir da destruição total de Jerusalém pelos romanos em 135.
O gnosticismo teve força até fins do século II e ensinava que o conhecimento é a chave da salvação. Havia muita discussão sobre que escritos eram bons e inspirados por Deus e os heréticos aceitavam apenas as passagens que lhes interessavam, mas rejeitavam basicamente todos os escritos que ensinavam que a salvação é obtida pela graça de Deus, mediante a fé em Cristo, sem interferência do homem.
Essas seitas heréticas desafiavam os cristãos a definirem logo que livros reconheciam como autorizados por Deus.
As Igrejas conviveram também com exageros de natureza teológica. O montanismo ensinava dependência extrema do Espírito Santo (Montano era o intérprete do Espírito), o fim de toda forma de organização, o rigor religioso e a criação de um reino celestial na Frígia.
O monarquianismo dinâmico (Paulo de Samosata, séc. III) exagerava no ensino de um Deus único que entrara no corpo do homem chamado Jesus, negando a Trindade divina. O monarquianismo modalista ensinava três diferentes manifestações de Deus em momento diferentes da histórica (o Pai, o Filho e o Espírito Santo).
Também houve controvérsia entre o cristianismo do oriente e do ocidente sobre a data correta da Páscoa, que só se resolveu no concílio de Nicéia (325). O donatismo foi uma controvérsia entre Donato e Felix, acusado de ser um traidor durante a perseguição sob Diocleciano. Um sínodo reunido em Roma pôs fim à polêmica.
Esse foi um período em que o cristianismo produziu muitos escritos importantes, destinados a tratar de diversos assuntos. Houve aquele que ficaram conhecidos como “Pais da Igreja” que se dedicaram a escrever para a edificação: Inácio, Policarpo, Clemente de Roma, Papias e outros (cerca de 95 e 150 d.C.). Aristides, Justino, Taciano, Atenágoras, Tertuliano e Teófilo (120 a 220) explanaram sobre a defesa do cristianismo. Eles são conhecidos como apologistas. Aqueles que escreveram para rebater doutrinas foram chamados de Polemistas: os práticos Irineu, Tertuliano, Cipriano; os alegóricos de Alexandria (Egito) Panteno, Clemente de Alexandria e Orígenes (180 a 250). Os Expositores da Bíblia (325 a 460) foram Jerônimo, Ambrósio, Agostinho, Atanásio, Basílio, Crisóstomo e Teodoro.
Os escritos desses mestres foram cartas, livros de conteúdo apocalíptico e catequético (de ensino religioso). Um dos mais famosos e descoberto apenas no último século é a Didaquê (Ensino dos doze apóstolos) do século II.
3.8 As perseguições
Todas as religiões que aceitassem o culto ao imperador de Roma eram aceitas sem restrições pelas autoridades do império. No entanto, eram proibidas as sociedades secretas e qualquer culto competisse com a lealdade total ao imperador. Para os romanos, não havia problemas se uma religião tinha só um ou muitos deuses, desde que reconhecesse a divindade dos governantes do Estado romano.
Os cristãos, embora fossem ordeiros e pacíficos, passaram a ser considerados ateus (porque não criam nos diversos deus populares), a ser impedidos de professarem abertamente sua fé a serem perseguidos como uma ameaça ao Estado. Como os cristãos não participavam de certas festas e costumes populares, muitos não aceitavam serem soldados, tomavam a ceia do Senhor a portas fechadas (daí serem visto como “antropófagos”, pois “comiam” a carne e “bebiam” o sangue de um “tal Cristo”). Por viverem neste estilo de vida, a população desinformada era antipática a eles.
Mas as perseguições podiam ter diferentes motivações: Nero perseguiu os cristãos por motivos pessoais (meados do século I), Domiciano perseguiu judeus e atingiu os cristãos (95d.C.); cristãos foram perseguidos na Bitínia, depois em Esmirna e Roma (século II) por causas locais. Depois de 250, o imperador Décio aumentou a perseguição para todas as áreas do império.
Bastava alguém acusar uma pessoa de ser cristã e o acusado teria de escolher entre sua fidelidade a Cristo ou ao imperador. Os que resistissem, podiam sofrer penas mais leves ou mais pesadas de acordo com o julgamento local. Houve cristãos que resistiram até a morte, até mesmo diante de ameaças de seres devorados por feras, serem queimados vivos ou torturados de modos. Apesar disso, o cristianismo crescia, pois o testemunho e a fé animavam os crentes e impressionavam às pessoas que os observavam.
Como vimos antes, o fim das perseguições ocorreu oficialmente em 313 com o Edito de Milão, quando o imperador Constantino viu a importância do apoio cristão ao seu governo. E foi usando um emblema cristão pintado em escudos que ele conseguiu a simpatia dos soldados convertidos e da população cristã pobre de Roma à entrada de suas tropas na capital do império. Seu governo favoreceu a igreja e ele passou a usar o título de “bispo dos bispos” e ao mesmo tempo o de “pontifex maximus” (sacerdote-chefe do culto pagão).
4 A IGREJA MEDIEVAL (476-1453 a. D.)
4.1 Os cristãos na Idade Média
Como vimos nas partes anteriores, o cristianismo seguiu um duro caminho desde seu início, em Jerusalém. Por mais de um século, atravessou as perseguições do Estado. Para eliminar doutrinas falsas e prevenir sua fé, definiu o conjunto dos livros sagrados (cânon). As divergências foram resolvidas através das decisões dos concílios. O bispo de Roma (papa) deixou de ser um simples pastor de almas e passou a ser um simples pastor de almas e passou a ser um governante religioso que, cada vez mais, aumentava o seu poder político.
Não tratamos ainda aqui, do monasticimo, mas vale a pena falarmos sobre ele. Foi um movimento para alguns cristãos sinceros buscarem maior espiritualidade do lado de fora da igreja de sua época, insatisfeitos que estavam com a “badalação” dos ricos e das pessoas importantes que invadiam os templos. Por isso, esses cristão foram isolar-se no deserto, em cavernas ou em mosteiros.
4.2 O império da Igreja Católica
Em 476 Roma deixou de ser o centro do poder imperial. No século II o imperador Constantino transferira a capital para Constantinopla (Bizâncio), deixando atrás a velha capital num vazio de poder que só o papa foi capaz de preencher. Após os bárbaros terem assumido o poder de fato na parte ocidental do império, o papa exercia grande influencia sobre os novos dominadores.
A transferência do poder para o oriente não foi muito duradoura, pois o imperador tinha limitações que o impediam de comandar toda a vastidão do antigo império. Logo o monarca sentiria a pressão das tropas do islã (movimento iniciado na Arábia por Maomé), cercando a capital bizantina.
Os reinos bárbaros que se formaram na Europa controlava a vida política e econômica. Na prática, eram independentes do imperador. Quem os influenciava diretamente era a Igreja Romana, através da manipulação feita pelo papa. Pense: O sacerdote local tinha total contato com a população e podia influenciar a consciência das massas. O sacerdote era um “agente” religioso a serviço de Roma, leal aos bispos e ao papa. Com o passar do tempo, os reis foram ambicionado esse poder. Estamos falando da união da Igreja e do Estado, como partes de um mesmo esquema. Não se discutia se essa união era boa ou não, porque a grande questão era quem iria controlar o poder religioso.
De outro lado, a Igreja Romana se omitia no ensino da Bíblia ao povo. Poucos sabiam ler e por estarem em contato com os bárbaros, aprenderam suas crendices e superstições.
Enquanto isso, em Bizâncio, os rivais do papa romano (o patriarcado da Igreja oriental e o imperador) estavam cercados pelos seguidores do “profeta” Maomé. E foi por causa da ausência do poder oficial em Roma que o papa teve oportunidade no ano 800 para fazer uma aliança lucrativa com o chefe do reino mais forte da época, Carlos Magno, rei dos francos.
4.3 O santo império
A aliança entre o papado e os chefes teutônicos criou o Santo Império Romano Germânico. Por um lado, os novos imperadores reconheciam a autoridade espiritual do papa e seguiriam a fé cristã. O novo império deveria também proteger a Igreja contra possíveis hereges e invasores de suas propriedades. A igreja ficava responsável pela formação do caráter e consciência dos súditos (pessoas governadas) através de seus sacerdotes.
Esse sistema era baseado em dois poderes: O poder temporal (do imperador e dos reis) e o poder espiritual ou religioso (do papa e dos bispos). Houve momentos em que não se sabia ao certo quem controlava e até onde ia o poder de um ou de outro. Muitas vezes, essa dúvida criava desentendimentos que se transformaram em batalhas, traições, assassinatos etc.
4.4 A Igreja Católica se divide
Na Europa começou a adotar-se uma nova prática para controle político e econômico dos territórios. Chamava-se feudalismo e estava baseado na divisão da terra por herança e pela hierarquia social. Esta era uma maneira de dividir as diferentes classes de pessoas pelo seu nascimento. Assim, por exemplo, o filho de um homem do campo não tinha os mesmos direitos que um nobre. A Igreja também adotou essa forma de pensar e o clero (conjunto dos sacerdotes) passou a ser uma organização acima das classes mais pobres, ficando mais próxima da nobreza.
Enquanto a Igreja do ocidente (Roma) se tornava feudal, a Igreja do oriente ou bizantina (Constantinopla) mantinha o que lhe restava após as invasões do islã. O patriarca, rival do papal, enfraquecia. Assim, o papa facilmente seria reconhecido como “bispo universal”. Ele agia dessa forma sem pedir licença. O resultado foi que as relações entre os dois ramos do cristianismo se romperam oficialmente (1054).
Essa primeira parte da Idade Média ajudou a “temperar” os relacionamento entre a igreja e o estado. Nos reinos feudais da Europa, a maioria das pessoas vivia nos campos (pastores e lavradores), em volta do castelo. Aos poucos, surgiram cidades e organizações comerciais que os reis quiseram controlar. Daí surgiram as nações-Estado (França, Alemanha, Espanha, Inglaterra, etc.). Cerca de quatro séculos mais tarde, esses países desejavam libertada do poder excessivo da Igreja.
Veja só: A Igreja lucrava com a manipulação da consciência das pessoas. Ela possuía terras, riquezas, tropas, controlava reis e imperadores. Isso era possível porque não havia cultura, nem se conhecia a Bíblia. O clero ficava distante do povo e não queria saber das pessoas.
4.5 Os “super-papas” e as tentativas de reforma
Você já sabe que a Igreja Romana medieval era a igreja dos “super-papas”. Já vimos como poder político e as riquezas haviam “encantado” o clero de Roma. A Igreja tornou-se muito poderosa, mas havia abandonado a simplicidade da fé cristã.
Nesse período (Idade Média) e em outros momentos, houve reações pacíficas daqueles que desejavam a Igreja voltada para a Bíblia. Havia desejo de restaurar a oração e a humanidade. Para os nacionalistas, principalmente governantes descontentes com o poder eclesiástico havia vontade de tirar da Igreja o direito aos impostos papais, para que o dinheiro permanecesse em seus países de origem.
Tentativas de reforma começaram a surgir. É o caso dos místicos da abadia de Cluny (França). Os monges (sacerdotes que viviam em isolamento) de Cluny iniciaram um movimento conhecido como misticismo, em busca de um cristianismo mais humilde e espiritualizado. Esse movimento influenciou muitas pessoas e gerou outros movimentos semelhantes.
4.6 Início do fim dos “super-papas”
Quem chegou mais alto entre os “super-papas’ foram Gregório VII e Inocêncio III. Os dois viveram no século X e eram tão poderosos que humilharam os chefes temporais mais fortes daquele tempo.
O papado da Igreja, sem saber, aproveitava as últimas décadas de seu “super-poder”. Enquanto isso, os mulçumanos do Islã dominavam o norte da África e avançavam sobre a Europa em várias frentes. Conhecidos como mouros na Penínsulas Ibérica (Portugal e Espanha), os seguidores de Maomé ficaram na Espanha por seis séculos (entre os séculos VII e XIII).
Esse convívio forçado produziu uma troca intelectual intensa. Os árabes levaram da Grécia para a Espanha a filosofia de Aristóteles que Tomás de Aquino usou na teologia católica. Os conhecimentos árabes de astronomia, filosofia, música, arquitetura etc, influenciaram muito os europeus.
Mas as questões centrais do islamismo eram a agressividade de seu avanço inicial, a negação de Cristo como Filho de Deus, sua aversão ao Antigo Testamento e a mudança dos locais de adoração. Islã é um termo árabe que significa “submissão” e os muçulmanos quiseram submeter os povos á sua fé. Na visão islâmica, Cristo foi um profeta de Alá (Deus), em igualdade com Abraão. Maomé é considerado o maior e amis importante profeta. O local onde Alá deve ser adotado é Meca, na Arábia Saudita. Os islamitas seguiam ensinos do Corão (AL Conhoram), seu livro sagrado.
O avanço mulçumano teve sucesso principalmente por causa do despreparado dos cristãos. Sem cultura e desconhecendo a fé bíblica, eles se apegavam á religião formal. Depois do trauma da invasão, muitos cristãos nominais aceitaram converter-se ao islamismo. A troca da confissão religiosa foi somente na forma, mas não em essência.
4.7 A guerra e o roubo em nome da religião
As conquistas militares dos árabes sobre a Europa foram uma série ameaça à Igreja. Diversos territórios ficaram definitivamente sob controle muçulmano. Diante disso, a Igreja uniu-se aos governantes para combater o islã que tina como alvo reconquistar Jerusalém e a Terra Santa (Palestina).
Durante três séculos, os papas convocaram expedições para a “guerra santa”. Essas expedições foram chamadas de Cruzadas e a maioria delas perdeu os objetivos originais. Muitos servos pessoas pobres se juntaram a fanáticos religiosos nas cruzadas porque viam a oportunidade de serem livres ou enriquecer. Os nobres que comandavam esses exércitos despreparados desejavam mais prestigio, poder e riquezas. Alguns que voltaram à Europa como cavaleiros, participavam de torneios para ganhar prêmios e fama. Tornaram-se símbolos da cavalaria romântica como defensores da igreja e dos valores da nobreza.
Diversos papas desse período usaram sua influencia e a força dos cruzados em benefícios de sua política. Um desses benefícios foi livrar a Igreja oriental dos mulçumanos para que ela finalmente obedecesse ao papa romano.
As cruzadas eram instrumentos de política usado por governantes e religiosos com interesses além daqueles que eram declarados – poder de dominar e explorar. A religião era a desculpa usada para encobrir muitos interesses comerciais. Como exemplo desses interesses, temos a formação de grandes empresas de navegação no mar Mediterrâneo, apropriar-se de territórios, criar mercados importadores, abrir caminhos mais baratos para os centros produtores de especiarias etc. Através dessas guerras, tesouros seculares de povos antigos foram roubados.
Como se conseguia manipular as massas? Dizendo que quem ajudasse a reconquistar a Terra Santa receberia muitas bênçãos de Deus, como o perdão dos pecados, o livramento das chamas do inferno e outras coisas. Criou-se a histeria coletiva para motivar o interesse.
Muitas pessoas foram usadas em nome da fé, inclusive crianças. E, ao invés do cristianismo converter os mulçumanos ao evangelho, criou mais ódio por causa das atrocidades praticadas por soldados “cristãos”.
4.8 Avaliação do período
Esse clima de guerra, junto com os jogos dos papas romanos, não evitava que as bases do papado se corrompessem. O catolicismo precisava de reforma urgente, mas a Igreja oficial recusava qualquer possibilidade de mudança.
Nesse período, houve algumas iniciativas de reforma religiosa, Jerônimo Savonarola (Itália), João Wycliff (Inglaterra), João Huss (Boêmia, atual Romênia) se destacaram. Mas o caminho estava se abrindo para uma reforma mais ampla e inevitável.
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Arquivo THEOS – Centro de Pesquisa Teológica e Apologética Cristã
REFERÊNCIAS
CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, s/d.
DAMIÃO, Valdemir. História das Religiões. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
HURBUT, JesseLyman. História da Igreja Cristã. Deerfield, Florida: Editora Vida, 1993.
KNIGHT, A. E.; ANGLIN, W. História do Cristianismo. 10. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.
NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1954.
OLIVIERA, Raimundo F. História da Igreja: dos primórdios à atualidade. 2. ed. Campinas – SP: EETAD, 1996.
O topo culminante que assinala o ponto de partida da igreja de Cristo é o Monte das Oliveiras, não muito distante do muro oriental de Jerusalém. Ali, cerca do ano 30 a.D. Jesus Cristo, que havia ressurgido dentre os mortos, ministrou seus últimos ensinamentos aos discípulos e logo depois ascendeu ao céu, ao trono celestial.
Um pequeno grupo de judeus crentes no seu Senhor, elevado como Messias-Rei de Israel, esperou algum tempo em Jerusalém, sem considerar, inicialmente, a existência de uma igreja fora dos limites do judaísmo. Contudo, alargaram gradualmente seus conceitos e ministério, até que sua visão alcançou o mundo inteiro, para ser levado aos pés de Cristo. Sob a direção de Pedro, Paulo e seus sucessores imediatos, a igreja foi estabelecida no espaço de tempo de duas gerações, em quase todos os países, desde o Eufrates até ao Tibre, desde o Mar Negro até ao Nilo. O primeiro período terminou com a morte de João, o último dos doze apóstolos, que ocorreu, conforme se crê, cerca do ano 100 a.D. Consideremos, pois, essa época – “O Período da Era Apostólica”.
Durante o período que se seguiu à Era Apostólica, e que durou mais de duzentos anos, a igreja esteve sob a espada da perseguição. Portanto, durante todo o segundo século, todo o terceiro e parte do quarto, o império mais poderoso da terra exerceu todo o seu poder e influência para destruir aquilo a que chamavam “superstição cristã”. Durante sete gerações, um nobre exército de centenas de milhares de mártires conquistou a coroa sob os rigores da espada, das feras na arena e nas ardentes fogueiras. Contudo, em meio à incessante perseguição, os seguidores de Cristo aumentaram em número, até alcançar quase metade do Império Romano. Finalmente, um imperador cristão subiu ao trono e por meio de um decreto conteve a onda de mortes.
Evidentemente, os cristãos que durante tanto tempo estiveram oprimidos, de forma rápida e inesperada, por assim dizer, passaram da prisão para o trono. A igreja perseguida passou a ser a igreja imperial. A Cruz tomou o lugar da águia como símbolo da bandeira da nação e o Cristianismo converteu-se em religião do Império Romano. Uma capital cristã, Constantinopla, ergueu-se e ocupou o lugar de Roma. Contudo, Roma, ao aceitar o Cristianismo, começou a ganhar prestígio como capital da igreja. O Império Romano Ocidental foi derrotado pelas hordas de bárbaros, porém estes foram conquistados pela igreja, e fundaram na Europa nações cristãs, em lugar de nações pagãs.
Com a queda do Império Romano Ocidental iniciou-se o período de mil anos, conhecido como Idade Média. No início, a Europa era um caos, um continente de tribos sem governo e sem leis de nenhum poder central. Mas, gradativamente, foram-se organizando em reinos. Naquela época, o bispo de Roma esforçava-se não só para dominar a igreja, mas também para dominar o mundo. A religião e o império de Maomé conquistaram
Todos os países do Cristianismo primitivo. Encontramos, então, o Sacro Império Romano e seus inimigos. Observamos, também, o movimento romântico das Cruzadas no vão esforço para conquistar a Terra Santa que estava em poder dos muçulmanos. A Europa despertava com a promessa de uma próxima reforma, na nova era. Assim como a História Antiga termina com a queda de Roma, a História Medieval termina com a queda de Constantinopla.
2 A IGREJA PRIMITIVA (30-100 a.D.)
A pessoa de Jesus Cristo, o Nazareno, tornou-se inicialmente conhecida na Judéia, um território sob o domínio do Império Romano.
O que no início era um fato apenas local, mais tarde tornou-se mundial. Isto porque, como no dizer do apóstolo Paulo, “vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher” (Gl 4.4). Entendendo a “plenitude dos tempos” como no momento mais apropriado para a primeira vinda de Cristo.
A língua grega havia se tornado o idioma da cultura e do comércio, devido às conquistas dos gregos cerca de três séculos antes de Cristo. Quando Cristo veio, os povos eram bilíngües, falavam sua própria língua e o grego. Isso ajudou a espalhar o evangelho.
2.1 Cristo marcou a história
Os Evangelhos mostram a vida e o ministério de Jesus, durante o qual o Senhor preparou seus discípulos para anunciarem as boas novas da salvação. Segundo Damião (2003, p. 377): Os Evangelhos, que são a principal fonte de dados sobre a vida de Jesus, não podem ser entendidos como uma biografia no sentido comum do termo, pois cada um dos quatro evangelistas evidenciou propósitos específicos com seus livros, procurando proclamar através deles o Cristo como Senhor e Salvador, o perfeito unigênito Filho de Deus. Jesus instruiu os doze apóstolos e os demais discípulos sobre como deveriam viver. Eles deveriam dedicar-se a Deus e compartilhar as bênçãos divinas com outras pessoas em todos os lugares (At 1.8).
Após a ressurreição, Jesus foi visto “por mais de quinhentos irmãos de uma só vez” (1 Co 15.3-6). Quando subiu aos céus (ascensão), Jesus havia deixado um grupo organizado de crentes. Eles aguardavam seu regresso e, enquanto isso, teriam de pregar a fé em Cristo e o arrependimento dos pecados.
Os cristãos como viriam a ser conhecidos mais tarde, contariam com o poder dado por Cristo para fazerem milagres e curarem enfermos, entre outras bênçãos da fé (Mc 16.17,18).
Na primeira comemoração do Pentecostes, após a ascensão do Senhor, alguns discípulos estavam orando e o Espírito Santo se manifestou de forma maravilhosa (At 2.1-4). A partir desse momento, os discípulos sentiram-se mais capacitados a pregar o evangelho de Cristo. Estava formada a primeira igreja, em Jerusalém.
2.2 Como a primitiva igreja cristã cresceu
As primeiras conversões em Jerusalém foram em número impressionante (At 2.41; 5.14,16; 6.7). Durante alguns anos, os cristãos não saíram de Jerusalém para pregar. Após a perseguição que seguiu-se ao apedrejamento de Estêvão, os discípulos fugiram para o restante da Judéia, para Samaria e para a Fenícia (Líbano), Chipre (ilha do Mar Mediterrâneo) e Antioquia da Síria (At 8.1; 11.20).
Os discípulos que se dispersaram, por causa da perseguição, para Antioquia da Síria, deram origem a uma nova igreja. Os crentes, ensinados por Barnabé e por Paulo, começaram a obra missionária enviando esses dois pregadores a Chipre. Em Antioquia é que os discípulos de Jesus foram chamados, pela primeira vez, de cristãos (At 11.26).
Entre os anos 60 e 70 o imperador romano, Nero, iniciou uma perseguição aos cristãos de Roma. Outras perseguições em outras regiões aconteceram, ora contra os judeus, ora contra os cristãos, pois eram confundidos com os judeus ou como amigos deles.
Por volta do ano 100, o cristianismo crescia apesar das perseguições. Por outro lado, algumas idéias erradas tinham começado a ser comuns. As idéias mais perigosas para o cristianismo daquela época eram o ebionismo (queria conservar o cristianismo no judaísmo) e o gnosticismo (dizia que o conhecimento da salvação era para algumas pessoas especiais providas de sabedoria).
2.3 Contribuições importantes para a formação do cristianismo
a) Judeus (religião)– Apesar de falarem o aramaico, a língua dos judeus não era mais que um idioma falado na periferia. Mas eles contribuíram muitíssimo para o início do cristianismo, conforme Nichols (1954, p. 9):
Os judeus, como se tem dito com muito acerto, prepararam o ‘Berço do Cristianismo’, fizeram os preparativos para o seu nascimento e o alimentaram na sua primeira infância. Prepararam antecipadamente a vida religiosa em que foram instruídos o Senhor Jesus mesmo e todos os cristãos primitivos, inclusive os apóstolos e os primeiros missionários. Em parte alguma do mundo, ao surgir o Cristianismo, havia uma vida religiosa tão pura e tão forte como a existente entre os melhores representantes da religião judaica, cujos característicos essenciais eram dois: a mais alta concepção de Deus entre os homens, como resultado do ensino do V. Testamento; e o mais alto ideal de vida moral que se conhecia resultante dessa sublime concepção de Deus.
Os judeus criam na vinda do Messias (em grego, Cristo), prometido por Deus como guia e libertador de Israel. A ética judaica ensinava que o pecado era uma violação da vontade de Deus. Os judeus forneceram o cânon (coleção de livros sagrados) do Antigo Testamento (Rm 3.2). Isto ajudou a fundamentar a fé dos primeiros cristãos. Também criam os judeus que a história tem um significado e que, no fim, Deus irá triunfar sobre a falha da humanidade. Finalmente, outra importante contribuição histórica dos judeus foi a sinagoga. Durante o tempo em que o povo de Judá foi levado para a Babilônia como escravos (séculos VI a. C.), os judeus desenvolveram uma alternativa para conservar sua religião, língua e costumes. Essa alternativa era a sinagoga, isto é, uma congregação que substituía parte dos serviços religiosos do templo que ficara em Jerusalém. As sinagogas se tornaram muito importantes para a vida comunitária do povo judeu mesmo depois de voltarem à sua terra. Foi nelas, muitas vezes, que os cristãos pregaram o evangelho aos judeus e prosélitos (gente de outros povos convertida ao judaísmo). Leia Atos 13.14,15; 19.8.
b) Gregos (cultura) – Vimos que a língua grega foi muito útil na formação do cânon (conjunto de livros inspirados por Deus) do Novo Testamento. Os povos que viviam em torno do Mar Mediterrâneo (sul da Europa e Grécia, norte da África, a Palestina e a Ásia que hoje chamamos de Turquia) estavam familiarizados com o grego koinê, e que segundo Nichols (1954, p. 8,9):
Era esta a língua universal do mundo greco-romano, usada para todos os fins no intercâmbio popular. Quem quer que o falasse seria entendido em toda parte, especialmente nos grandes centros onde o Cristianismo foi primeiramente implantado. Os primeiros missionários, como por exemplo Paulo, fizeram quase todas as suas pregações nesta língua e nela foram escritos os livros que vieram a construir o nosso Novo Testamento. De modo que a religião universal encontrou para sua propaganda e conhecimento, entre todos os homens, uma língua universal; e esse auxílio inestimável foi, por Deus, providenciado por intermédio do povo grego.
Mas a cultura grega também influenciava o pensamento (filosofia) e as religiões daquele tempo.
c) Romanos (política) – Roma concretizou a unidade política com leis que deveriam ser obedecidas em todas as partes do império. Essa forma de ver o mundo ajudou os cristãos a entenderem a idéia de um reino celestial. As conquistas do exército romano ilustravam a conquista do mundo para Cristo. Diversos movimentos militares e comerciais desenvolveram cidades, as quais foram ligadas por estradas e por embarcações, deslocando cristãos em suas atividades profissionais ou missionárias como afirma Nichols (1954, p.6,7):
Com o seu império, os romanos se tornaram os mais úteis instrumentos de Deus no prepara do mundo para o advento do Cristianismo. Esse império, que incluía grande parte do gênero humano, foi uma lição objetiva que provava ser a humanidade uma só. Por muitas eras, governos separados formaram grupamentos humanos que se sentiam diferentes e isolados de todos os outros grupos; mas, com o Império Romano, os povos se unificaram, no sentido em que todos os governos tinham sido derrubados e um poder único dominava em toda a parte. O Cristianismo é uma religião de caráter universal, não conhecendo distinções de raça, apelando para os homens simplesmente como homens, tornando todos UM em Cristo. Para tal religião a preparação mais valiosa foi a unificação de todos os povos sob o poder político de Roma.
A administração romana, sábia, forte e vigilante, tornou fáceis e seguras as viagens e comunicações entre as diferentes partes do mundo. Os piratas, que estorvavam a navegação, foram varridos dos mares. Por terra, as esplêndidas estradas romanas davam acesso a todas as partes do império. Essas estradas notáveis realizaram naquela civilização o mesmo papel das nossas estradas de rodagem e estradas de assaltos. De modo que as viagens e o intercâmbio comercial tiveram extraordinário incremento. É provável que durante os primeiros tempos do Cristianismo o povo se locomovia de uma cidade para outra ou de um país para outro, muito mais do que em qualquer outra época, exceto depois da Idade Média. Os que sabem como as atuais facilidades de transporte têm auxiliado o trabalho missionário, podem compreender o que significava esse estado de coisas para a implantação do Cristianismo. Teria sido impossível ao apóstolo Paulo realizar sua carreira missionária sem essa liberdade e facilidade de trânsito possibilitadas pelo império romano. Contribuíram muitíssimo para o progresso do Cristianismo nos seus primeiros anos, as portas abertas que encontrou através de todo o mundo civilizado, as quais facilitaram o livre intercâmbio entre os países onde as novas idéias deveriam ser pregadas e encorajaram os movimentos dos primeiros missionários.
3 A IGREJA ANTIGA (100-476 a. D.)
3.1 O Cristianismo se expande
Enquanto o Evangelho era anunciado, crescia o número de cristãos. Houve crescimento numérico, mas o crescimento também foi espiritual. Porque as igrejas, ou parte delas, mantiveram a missão de anunciar o Evangelho e de cultivar as coisas espirituais legadas por Jesus. Assim asseverou Oliveira (1996, p. 23):
Entre o ano 100 d. C. e o reinado de Constantino, o Cristianismo alcançou considerável progresso. É certo que nem tudo nos tem sido dado conhecer a respeito do assunto, principalmente por ter sido esse período em que a Igreja sofreu grande perseguição. Além do mais, boa parte da expansão do Cristianismo durante esse período, teve lugar não só através da obra de missionários dedicados exclusivamente à tarefa da evangelização, como também através de testemunhos de comerciantes, soldados e escravos que por uma ou outra razão viajavam pelas mais diferentes regiões do Império.
O Cristianismo chegava a cada província de maneira humilde e obscura, mas logo crescia, tornava-se forte, e acabava por se impor como um organismo vivo em todos os seguimentos da vastidão do Império. Em 313 d. C., o Cristianismo já era religião dominante na Ásia, região muito importante do mundo de então, como também na Trácia e na longínqua Armenia. A Igreja se constituíra uma influência civilizadora muito poderosa em Antioquia da Síria, na costa da Grécia e Macedônia, nas ilhas gregas, no norte do Egito, na província da África, na Itália, no sul de Gália e na Espanha.
3.2 Crescimento espiritual
Na igreja primitiva (Séc. I), os domingos tinham dois cultos. Não tinham templos, pois reuniam-se em casas, em sinagogas em qualquer lugar público permitido. De manhã recebiam o ensino bíblico, cantavam hinos e prometiam viver corretamente. À noite celebravam a ceia do Senhor. Entre os dois cultos, realizavam o agape, ou festa do amor, com uma refeição comunitária. Assim disse Hurlbut (1993, p.42,43):
“A Ceia do Senhor era observada universalmente. A Ceia, no início, era celebrada no lar, assim como a páscoa, da qual se originou. Entretanto, nas igrejas gentílicas apareceu o costume de celebrar-se uma reunião da igreja como se fosse uma ceia qualquer, para a qual cada membro levava a própria provisão. O apóstolo Paulo repreendeu a igreja em Corinto pelo abuso que esse costume havia causado. No fim do século a Ceia do Senhor era celebrada onde os cristãos se reuniam, porém(talvez, por causa da perseguição), não em reuniões públicas. Somente os membros da igreja eram admitidos nas reuniões em que celebravam a Ceia, que era considerada como um ‘mistério’. O reconhecimento do domingo da ressurreição como aniversário da ressurreição de Cristo fora sancionado e aumentava dia a dia; contudo, nessa época ainda não era de guarda universal.”
Havia muita atenção para a ação social em benefício dos mais necessitados.No culto, lia-se uma passagem bíblica, o presidente aconselhava a congregação, havia orações e cânticos. A autoridade na igreja era encabeçada pelo bispo ou presbítero presidente. Ele cuidava principalmente do ensino e dos atos religiosos, ajudado pelos diáconos durante os cultos e na ação social.
A simplicidade dos primeiros crentes foi sendo modificado aos poucos. No segundo século, a ceia do Senhor já era feita pela manhã, a liturgia (ordem do culto) ficou mais formal e o agape não era mais realizado. Era comum chamar os bispos de “pai”. Na realização do culto, liam-se as “memórias dos apóstolos” ou “escritos dos profetas”, o presidente fazia uma pregação, a congregação orava em pé e fazia-se uma coleta para ajudar aos mais necessitados
Mesmo que as igrejas não tenham convivido com a prática da escravidão, sua atitude era de pregar a igualdade entre as pessoas. Nas atividades sociais e culturais, aconselhavam o não envolvimento com festas, jogos e espetáculo que não glorificassem a Deus. Especialmente, não toleravam que seus membros se misturassem aos cultos pagãos.
3.3 Crescimento da organização
Com a ameaça da perseguição e das doutrinas falsas, as igrejas começaram a achar que precisavam de bispos fortes. Surgiu aí a figura do bispo monárquico, que era considerado superior aos demais pastores (presbíteros). Em pouco tempo, a Igreja aceitou que os bispos das igrejas mais importantes que os outros bispos.
A partir daí, aceitaram-se as idéias de escritores cristãos, como Cipriano e Inácio, sobre a sucessão apostólica (quem podia ordenar alguém ao pastorado desde o tempo dos apóstolos) e sobre a totalidade dos cristãos formar uma só igreja universal, daí o título “católica”. Para serem práticos, as igrejas do século III reconheciam cinco bispos mais importantes (metropolitanos): das igrejas de Roma, Éfeso, Antioquia, Alexandria e Constantinopla. Como a situação política e econômica fez que algumas dessas cidades perdessem sua importância, apenas os bispos de Roma e Constantinopla continuaram no páreo pelo primeiro lugar da liderança.
A “politicagem” entre as igrejas começou na época em que as perseguições terminaram. Depois de ser ajudado pelos cristãos a tomar o poder de Roma, o imperador Constantino deu-lhes de presente o Edito de Milão (ano 313). Esse documento dizia que os cristãos tinham liberdade para praticarem a sua religião. Porém, Constantino tinha interesses políticos e, por isso, prestigiava os cristãos e envolvia os bispos em suas decisões, que segundo Knight e Anglin (1999, p. 54):
A administração do estado e dos negócios civis foi reunida com o governo da igreja e podia-se presenciar o espetáculo extraordinário de um imperador romano presidir os concílios da igreja e tomar parte nos debates.
Em geral os cristãos não se ressentiam desta intrusão, pelo contrário consideravam-na como um auspicioso e feliz presságio, e em lugar de censurar o imperador pelo seu intrometimento, receberam-no como bispo dos bispos. O povo de Deus aceitou a proteção de um estado semipagão, e o cristianismo sofreu a maior degradação possível com a proteção de um potentado do mundo.
O Cristianismo não precisava mais se esconder e, então, tinha até ajuda oficial para construir templos caros.
3.4 Os cristãos e os imperadores
A partir de 313, já estava nitidamente formada a idéia de uma só igreja, a católica romana. Constantino e Licínio governaram Roma com uma política de benefícios à Igreja Cristã, mas o paganismo (religiões de mistério) continuava. O imperador e seus descendentes mantiveram essa política, devolvendo propriedades da Igreja, dando-lhe ajudas materiais, enquanto o paganismo diminuía. Mas foi só em 380 que Teodósio I tornou o cristianismo a religião oficial de Roma. Após o curto governo de Juliano, que desejava retornar ao paganismo, os imperadores voltaram a favorecer a Igreja.
Essa atitude do estado fez com que a Igreja se tornasse sua aliada e os governantes sentiam-se à vontade para interferir nos assuntos espirituais. As autoridades da Igreja também ganharam, aos poucos, maior poder e influência na política.
Mas o Império Romano se dividiu e os diferentes imperadores tinham muitos conflitos de interesses. A cultura romana começou perder sua força porque não havia uma liderança eficiente e os valores que sustentava o império foram caindo aos poucos.
3.5 A Igreja e os bárbaros
O enorme território, com povos tão diferentes, e a perda da vontade de conquistar deixaram o Império Romano mais aberto às invasões dos bárbaros. Eram povos que se transferiram de regiões distantes na Ásia e atravessaram a Europa, apossando-se de terras do império. Os territórios romanos foram invadidos em 378 pelos godos. Daí até o século V, houve invasões de vários grupos. O chefe bárbaro Odroaco tomou o governo de Roma (476), enquanto Teodorico dominava a Itália.
A aproximação dos bárbaros com os cristãos permitiu a evangelização daqueles povos, que segundo Cairns (s/d, p. 103): “A grandeza da civilização que a Europa ocidental criou não foi tanto devida à invasão dos vigorosos bárbaros mas á bem-sucedida conversão destes bárbaros ao cristianismo por obra da Igreja.” Já que os bárbaros derrotaram os romanos, restava a liderança do “papa” (bispo de Roma). Com o papa se relacionando com os novos governantes, cresceu a confiança do povo romano no chefe religioso. Além de líder da Igreja, o papa ganhou também funções de líder político, competindo com os verdadeiros reis. Mais tarde, essas funções colocaram os papas contra os reis e imperadores.
3.6 A sobrevivência do cristianismo
Após a morte de João, o último apóstolo a falecer, e de terem eles terminado sua tarefa de liderar os cristãos e fixar as bases de seu crescimento (século I), as igrejas continuavam a crescer e a se multiplicar. Como vimos antes, o cristianismo crescia, mesmo enfrentando perseguições do estado e as heresias (desvio dos ensinamentos). Vamos ver então como respondia a esses desafios.
3.7 O desafio herético
Heresia significa “desviar-se de um caminho principal”. As heresias que começaram no primeiro século foram o ebionismo (heresia legalista) e o gnosticismo (heresia filosófica).
Lá vimos que o ebionismo era ensinado por judeus cristãos que desejavam que os cristãos cumprissem a lei de Moises – a antiga aliança – para garantir a salvação. Porém, eles deixaram de ser influentes a partir da destruição total de Jerusalém pelos romanos em 135.
O gnosticismo teve força até fins do século II e ensinava que o conhecimento é a chave da salvação. Havia muita discussão sobre que escritos eram bons e inspirados por Deus e os heréticos aceitavam apenas as passagens que lhes interessavam, mas rejeitavam basicamente todos os escritos que ensinavam que a salvação é obtida pela graça de Deus, mediante a fé em Cristo, sem interferência do homem.
Essas seitas heréticas desafiavam os cristãos a definirem logo que livros reconheciam como autorizados por Deus.
As Igrejas conviveram também com exageros de natureza teológica. O montanismo ensinava dependência extrema do Espírito Santo (Montano era o intérprete do Espírito), o fim de toda forma de organização, o rigor religioso e a criação de um reino celestial na Frígia.
O monarquianismo dinâmico (Paulo de Samosata, séc. III) exagerava no ensino de um Deus único que entrara no corpo do homem chamado Jesus, negando a Trindade divina. O monarquianismo modalista ensinava três diferentes manifestações de Deus em momento diferentes da histórica (o Pai, o Filho e o Espírito Santo).
Também houve controvérsia entre o cristianismo do oriente e do ocidente sobre a data correta da Páscoa, que só se resolveu no concílio de Nicéia (325). O donatismo foi uma controvérsia entre Donato e Felix, acusado de ser um traidor durante a perseguição sob Diocleciano. Um sínodo reunido em Roma pôs fim à polêmica.
Esse foi um período em que o cristianismo produziu muitos escritos importantes, destinados a tratar de diversos assuntos. Houve aquele que ficaram conhecidos como “Pais da Igreja” que se dedicaram a escrever para a edificação: Inácio, Policarpo, Clemente de Roma, Papias e outros (cerca de 95 e 150 d.C.). Aristides, Justino, Taciano, Atenágoras, Tertuliano e Teófilo (120 a 220) explanaram sobre a defesa do cristianismo. Eles são conhecidos como apologistas. Aqueles que escreveram para rebater doutrinas foram chamados de Polemistas: os práticos Irineu, Tertuliano, Cipriano; os alegóricos de Alexandria (Egito) Panteno, Clemente de Alexandria e Orígenes (180 a 250). Os Expositores da Bíblia (325 a 460) foram Jerônimo, Ambrósio, Agostinho, Atanásio, Basílio, Crisóstomo e Teodoro.
Os escritos desses mestres foram cartas, livros de conteúdo apocalíptico e catequético (de ensino religioso). Um dos mais famosos e descoberto apenas no último século é a Didaquê (Ensino dos doze apóstolos) do século II.
3.8 As perseguições
Todas as religiões que aceitassem o culto ao imperador de Roma eram aceitas sem restrições pelas autoridades do império. No entanto, eram proibidas as sociedades secretas e qualquer culto competisse com a lealdade total ao imperador. Para os romanos, não havia problemas se uma religião tinha só um ou muitos deuses, desde que reconhecesse a divindade dos governantes do Estado romano.
Os cristãos, embora fossem ordeiros e pacíficos, passaram a ser considerados ateus (porque não criam nos diversos deus populares), a ser impedidos de professarem abertamente sua fé a serem perseguidos como uma ameaça ao Estado. Como os cristãos não participavam de certas festas e costumes populares, muitos não aceitavam serem soldados, tomavam a ceia do Senhor a portas fechadas (daí serem visto como “antropófagos”, pois “comiam” a carne e “bebiam” o sangue de um “tal Cristo”). Por viverem neste estilo de vida, a população desinformada era antipática a eles.
Mas as perseguições podiam ter diferentes motivações: Nero perseguiu os cristãos por motivos pessoais (meados do século I), Domiciano perseguiu judeus e atingiu os cristãos (95d.C.); cristãos foram perseguidos na Bitínia, depois em Esmirna e Roma (século II) por causas locais. Depois de 250, o imperador Décio aumentou a perseguição para todas as áreas do império.
Bastava alguém acusar uma pessoa de ser cristã e o acusado teria de escolher entre sua fidelidade a Cristo ou ao imperador. Os que resistissem, podiam sofrer penas mais leves ou mais pesadas de acordo com o julgamento local. Houve cristãos que resistiram até a morte, até mesmo diante de ameaças de seres devorados por feras, serem queimados vivos ou torturados de modos. Apesar disso, o cristianismo crescia, pois o testemunho e a fé animavam os crentes e impressionavam às pessoas que os observavam.
Como vimos antes, o fim das perseguições ocorreu oficialmente em 313 com o Edito de Milão, quando o imperador Constantino viu a importância do apoio cristão ao seu governo. E foi usando um emblema cristão pintado em escudos que ele conseguiu a simpatia dos soldados convertidos e da população cristã pobre de Roma à entrada de suas tropas na capital do império. Seu governo favoreceu a igreja e ele passou a usar o título de “bispo dos bispos” e ao mesmo tempo o de “pontifex maximus” (sacerdote-chefe do culto pagão).
4 A IGREJA MEDIEVAL (476-1453 a. D.)
4.1 Os cristãos na Idade Média
Como vimos nas partes anteriores, o cristianismo seguiu um duro caminho desde seu início, em Jerusalém. Por mais de um século, atravessou as perseguições do Estado. Para eliminar doutrinas falsas e prevenir sua fé, definiu o conjunto dos livros sagrados (cânon). As divergências foram resolvidas através das decisões dos concílios. O bispo de Roma (papa) deixou de ser um simples pastor de almas e passou a ser um simples pastor de almas e passou a ser um governante religioso que, cada vez mais, aumentava o seu poder político.
Não tratamos ainda aqui, do monasticimo, mas vale a pena falarmos sobre ele. Foi um movimento para alguns cristãos sinceros buscarem maior espiritualidade do lado de fora da igreja de sua época, insatisfeitos que estavam com a “badalação” dos ricos e das pessoas importantes que invadiam os templos. Por isso, esses cristão foram isolar-se no deserto, em cavernas ou em mosteiros.
4.2 O império da Igreja Católica
Em 476 Roma deixou de ser o centro do poder imperial. No século II o imperador Constantino transferira a capital para Constantinopla (Bizâncio), deixando atrás a velha capital num vazio de poder que só o papa foi capaz de preencher. Após os bárbaros terem assumido o poder de fato na parte ocidental do império, o papa exercia grande influencia sobre os novos dominadores.
A transferência do poder para o oriente não foi muito duradoura, pois o imperador tinha limitações que o impediam de comandar toda a vastidão do antigo império. Logo o monarca sentiria a pressão das tropas do islã (movimento iniciado na Arábia por Maomé), cercando a capital bizantina.
Os reinos bárbaros que se formaram na Europa controlava a vida política e econômica. Na prática, eram independentes do imperador. Quem os influenciava diretamente era a Igreja Romana, através da manipulação feita pelo papa. Pense: O sacerdote local tinha total contato com a população e podia influenciar a consciência das massas. O sacerdote era um “agente” religioso a serviço de Roma, leal aos bispos e ao papa. Com o passar do tempo, os reis foram ambicionado esse poder. Estamos falando da união da Igreja e do Estado, como partes de um mesmo esquema. Não se discutia se essa união era boa ou não, porque a grande questão era quem iria controlar o poder religioso.
De outro lado, a Igreja Romana se omitia no ensino da Bíblia ao povo. Poucos sabiam ler e por estarem em contato com os bárbaros, aprenderam suas crendices e superstições.
Enquanto isso, em Bizâncio, os rivais do papa romano (o patriarcado da Igreja oriental e o imperador) estavam cercados pelos seguidores do “profeta” Maomé. E foi por causa da ausência do poder oficial em Roma que o papa teve oportunidade no ano 800 para fazer uma aliança lucrativa com o chefe do reino mais forte da época, Carlos Magno, rei dos francos.
4.3 O santo império
A aliança entre o papado e os chefes teutônicos criou o Santo Império Romano Germânico. Por um lado, os novos imperadores reconheciam a autoridade espiritual do papa e seguiriam a fé cristã. O novo império deveria também proteger a Igreja contra possíveis hereges e invasores de suas propriedades. A igreja ficava responsável pela formação do caráter e consciência dos súditos (pessoas governadas) através de seus sacerdotes.
Esse sistema era baseado em dois poderes: O poder temporal (do imperador e dos reis) e o poder espiritual ou religioso (do papa e dos bispos). Houve momentos em que não se sabia ao certo quem controlava e até onde ia o poder de um ou de outro. Muitas vezes, essa dúvida criava desentendimentos que se transformaram em batalhas, traições, assassinatos etc.
4.4 A Igreja Católica se divide
Na Europa começou a adotar-se uma nova prática para controle político e econômico dos territórios. Chamava-se feudalismo e estava baseado na divisão da terra por herança e pela hierarquia social. Esta era uma maneira de dividir as diferentes classes de pessoas pelo seu nascimento. Assim, por exemplo, o filho de um homem do campo não tinha os mesmos direitos que um nobre. A Igreja também adotou essa forma de pensar e o clero (conjunto dos sacerdotes) passou a ser uma organização acima das classes mais pobres, ficando mais próxima da nobreza.
Enquanto a Igreja do ocidente (Roma) se tornava feudal, a Igreja do oriente ou bizantina (Constantinopla) mantinha o que lhe restava após as invasões do islã. O patriarca, rival do papal, enfraquecia. Assim, o papa facilmente seria reconhecido como “bispo universal”. Ele agia dessa forma sem pedir licença. O resultado foi que as relações entre os dois ramos do cristianismo se romperam oficialmente (1054).
Essa primeira parte da Idade Média ajudou a “temperar” os relacionamento entre a igreja e o estado. Nos reinos feudais da Europa, a maioria das pessoas vivia nos campos (pastores e lavradores), em volta do castelo. Aos poucos, surgiram cidades e organizações comerciais que os reis quiseram controlar. Daí surgiram as nações-Estado (França, Alemanha, Espanha, Inglaterra, etc.). Cerca de quatro séculos mais tarde, esses países desejavam libertada do poder excessivo da Igreja.
Veja só: A Igreja lucrava com a manipulação da consciência das pessoas. Ela possuía terras, riquezas, tropas, controlava reis e imperadores. Isso era possível porque não havia cultura, nem se conhecia a Bíblia. O clero ficava distante do povo e não queria saber das pessoas.
4.5 Os “super-papas” e as tentativas de reforma
Você já sabe que a Igreja Romana medieval era a igreja dos “super-papas”. Já vimos como poder político e as riquezas haviam “encantado” o clero de Roma. A Igreja tornou-se muito poderosa, mas havia abandonado a simplicidade da fé cristã.
Nesse período (Idade Média) e em outros momentos, houve reações pacíficas daqueles que desejavam a Igreja voltada para a Bíblia. Havia desejo de restaurar a oração e a humanidade. Para os nacionalistas, principalmente governantes descontentes com o poder eclesiástico havia vontade de tirar da Igreja o direito aos impostos papais, para que o dinheiro permanecesse em seus países de origem.
Tentativas de reforma começaram a surgir. É o caso dos místicos da abadia de Cluny (França). Os monges (sacerdotes que viviam em isolamento) de Cluny iniciaram um movimento conhecido como misticismo, em busca de um cristianismo mais humilde e espiritualizado. Esse movimento influenciou muitas pessoas e gerou outros movimentos semelhantes.
4.6 Início do fim dos “super-papas”
Quem chegou mais alto entre os “super-papas’ foram Gregório VII e Inocêncio III. Os dois viveram no século X e eram tão poderosos que humilharam os chefes temporais mais fortes daquele tempo.
O papado da Igreja, sem saber, aproveitava as últimas décadas de seu “super-poder”. Enquanto isso, os mulçumanos do Islã dominavam o norte da África e avançavam sobre a Europa em várias frentes. Conhecidos como mouros na Penínsulas Ibérica (Portugal e Espanha), os seguidores de Maomé ficaram na Espanha por seis séculos (entre os séculos VII e XIII).
Esse convívio forçado produziu uma troca intelectual intensa. Os árabes levaram da Grécia para a Espanha a filosofia de Aristóteles que Tomás de Aquino usou na teologia católica. Os conhecimentos árabes de astronomia, filosofia, música, arquitetura etc, influenciaram muito os europeus.
Mas as questões centrais do islamismo eram a agressividade de seu avanço inicial, a negação de Cristo como Filho de Deus, sua aversão ao Antigo Testamento e a mudança dos locais de adoração. Islã é um termo árabe que significa “submissão” e os muçulmanos quiseram submeter os povos á sua fé. Na visão islâmica, Cristo foi um profeta de Alá (Deus), em igualdade com Abraão. Maomé é considerado o maior e amis importante profeta. O local onde Alá deve ser adotado é Meca, na Arábia Saudita. Os islamitas seguiam ensinos do Corão (AL Conhoram), seu livro sagrado.
O avanço mulçumano teve sucesso principalmente por causa do despreparado dos cristãos. Sem cultura e desconhecendo a fé bíblica, eles se apegavam á religião formal. Depois do trauma da invasão, muitos cristãos nominais aceitaram converter-se ao islamismo. A troca da confissão religiosa foi somente na forma, mas não em essência.
4.7 A guerra e o roubo em nome da religião
As conquistas militares dos árabes sobre a Europa foram uma série ameaça à Igreja. Diversos territórios ficaram definitivamente sob controle muçulmano. Diante disso, a Igreja uniu-se aos governantes para combater o islã que tina como alvo reconquistar Jerusalém e a Terra Santa (Palestina).
Durante três séculos, os papas convocaram expedições para a “guerra santa”. Essas expedições foram chamadas de Cruzadas e a maioria delas perdeu os objetivos originais. Muitos servos pessoas pobres se juntaram a fanáticos religiosos nas cruzadas porque viam a oportunidade de serem livres ou enriquecer. Os nobres que comandavam esses exércitos despreparados desejavam mais prestigio, poder e riquezas. Alguns que voltaram à Europa como cavaleiros, participavam de torneios para ganhar prêmios e fama. Tornaram-se símbolos da cavalaria romântica como defensores da igreja e dos valores da nobreza.
Diversos papas desse período usaram sua influencia e a força dos cruzados em benefícios de sua política. Um desses benefícios foi livrar a Igreja oriental dos mulçumanos para que ela finalmente obedecesse ao papa romano.
As cruzadas eram instrumentos de política usado por governantes e religiosos com interesses além daqueles que eram declarados – poder de dominar e explorar. A religião era a desculpa usada para encobrir muitos interesses comerciais. Como exemplo desses interesses, temos a formação de grandes empresas de navegação no mar Mediterrâneo, apropriar-se de territórios, criar mercados importadores, abrir caminhos mais baratos para os centros produtores de especiarias etc. Através dessas guerras, tesouros seculares de povos antigos foram roubados.
Como se conseguia manipular as massas? Dizendo que quem ajudasse a reconquistar a Terra Santa receberia muitas bênçãos de Deus, como o perdão dos pecados, o livramento das chamas do inferno e outras coisas. Criou-se a histeria coletiva para motivar o interesse.
Muitas pessoas foram usadas em nome da fé, inclusive crianças. E, ao invés do cristianismo converter os mulçumanos ao evangelho, criou mais ódio por causa das atrocidades praticadas por soldados “cristãos”.
4.8 Avaliação do período
Esse clima de guerra, junto com os jogos dos papas romanos, não evitava que as bases do papado se corrompessem. O catolicismo precisava de reforma urgente, mas a Igreja oficial recusava qualquer possibilidade de mudança.
Nesse período, houve algumas iniciativas de reforma religiosa, Jerônimo Savonarola (Itália), João Wycliff (Inglaterra), João Huss (Boêmia, atual Romênia) se destacaram. Mas o caminho estava se abrindo para uma reforma mais ampla e inevitável.
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Arquivo THEOS – Centro de Pesquisa Teológica e Apologética Cristã
REFERÊNCIAS
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DAMIÃO, Valdemir. História das Religiões. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
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NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1954.
OLIVIERA, Raimundo F. História da Igreja: dos primórdios à atualidade. 2. ed. Campinas – SP: EETAD, 1996.